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Série SEX/LIFE: Crítica de uma mãe

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Olá! Se você gosta pelo menos um pouco de séries, já ouviu falar em SEX / Life. Essa série ficou pelo menos duas semanas em primeiro lugar entre os mais assistidos da Netflix, o que significa que a galera fica no mínimo curiosa quando tem uma safadeza na trama.

Isso já faz uns dois meses, e essa semana a polêmica voltou com a notícia de que a série foi renavoda pra uma segunda temporada.

UPDATE: 06/03/23 Acabei de terminar de assistir a segunda temporada e vou atualizar minha opinião no final do post.


OBS: Todas as reviews de filmes, livros e séries que faço são de obras que podem inspirar e empoderar mulheres, principalmente mães, de alguma forma ou que envolvem maternidade e mulheres mas não necessariamente empoderam.

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Sim, a série tem cenas bem eróticas e quentes, e foi, inclusive, inspirada em uma história real, relatada no livro 4 Homens em 44 Capítulos da BB Easton , sobre a história real dela mesma em relação às tentativas de apimentar o casamento fazendo o marido ler seu diário com suas aventuras sexuais do passado.

Bom, eu coloquei no título que faria uma crítica à série aqui, mas na verdade vou dar a minha opinião, como mãe de uma menina de 2 anos, sobre o que achei da série, do comportamento dos personagens e do final super polêmico. Esse é um blog pessoal, misturado com revista, então minha linguagem aqui vai ser sempre bem informal, como uma conversa de bar, e não como alguém superior que manja de cinema. Pra isso tem as críticas chatas do Omelete hehehe.

CONTÉM SPOILERS, se ainda não assitiu, pode parar por aqui.

Eu entendo a Billie

Eu entendo a Billie porque antes de ser mãe eu tinha aquela mesma sede de vida e experiências que ela. E ainda tenho. Mas a maternidade chega preenchendo tudo por um longo tempo, e você se vê, naturalmente, deixando o antigo EU pra trás. Mas a gente sente falta, muita falta, da antiga mulher.

E junto com a falta vem a culpa. E eu sentia muita culpa em amar tanto minha filha e sentir tanto essa falta da minha essência livre, independente e exploradora que de uma dia pro outro eu tive que substituir. Minha Artemis (Deusa grega da caça e liberdade) virou Deméter (Deusa grega da maternidade) de repente, e conhecer a Billie me fez sentir um grande alívio.

Uma mulher/mãe fora do manto de santa imaculada. Uma mulher que tem tudo, gosta, se sente grata, mas não se enquadra naquele padrão perfeitinho da classe média da família tradicional que vive mais focada na imagem da família perfeita do que no seu crescimento pessoal.

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Senti um alívio em ver que eu não sou a única que se sente um alien entre as mães de classe média do meu bairro que vivem pra competir qual filho tirou a fralda primeiro. Billie ama sua família, mas também se ama como mulher livre e selvagem.

Billie é uma Uma mulher que gosta sim de sexo, e não, não é ninfomaníaca, apenas gosta da sensação de poder ser ela mesma, se sentir desejada e da liberdade que ela tinha ao ser bem muito bem resolvida sexualmente. Do Êxtase, da magia, da adrenalina.

Vi tantos falando que Billie é ninfomaníaca, mas se fosse um homem na mesma situação ninguém ia falar que ele é viciado em sexo, apenas que ¨homem é assim mesmo, se não tem sexo em casa busca fora¨. Bom, acontece que mulher ¨é assim mesmo¨ também. E Billie incomoda muito ao mostrar isso, principalmente por ser mãe.

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Billie é uma personagem importante pq ela mostra que mulher é assim mesmo TAMBÉM. Que mulher também gosta de liberdade, de explorar, de sexo. Billie ama os filhos mais que tudo, mas isso não a impede de sentir falta da vida cheia de emoções e do espírito livre.

A série mostra muito bem que uma coisa não elimina a outra na cena que ela fica em pânico quando acha que o Cooper levou as crianças embora. Eu sinto saudades do meu espírito jovem estilo Billie pré casamento, mas se fico mais de 5 horas longe da minha filha perco até o foco de tantas saudades. Então eu entendo muito a Billie mesmo. Não, não concordo com a traição mas disso vou falar lá no final.

O Cooper Não é Santo

Olha, eu vi tanta mulher idolatrando o Cooper e o que eu posso dizer é, gente, NÃO! O Cooper mostra que não é nenhum príncipe encantado assim que começa a vasculhar escondido o computador da esposa. Como vocês conseguem achar o marido perfeito alguém que invade sua privacidade? Pra mim o pior é que todas as tentativas de mudança que ele faz NÃO É pela Billie, e sim pelo ego masculino.

Cooper ama ser o cara perfeito, o Ken da Barbie, o pai ideal, o funcionário do ano. Isso forma a identidade dele, e quando ele vê que não é mais tão perfeito assim e que a esposa dele não é a esposa perfeita que ele imaginava ele fica obcecado em tentar recuperar isso. E todo o esforço dele passa a ser mais uma competição com o Brad do que uma luta pela Billie.

No episódio em que ele goza e ela não, no carro, ele se dá por satisfeito, não fica frustrado por não ter satisfeito ela, e ali fica mais do que claro que ele está realmente mais preocupado com atingir performances do que com agradar ela.

Percebam a obsessão dele pelo Brad. Era assustador, bem stalker mesmo. Na cabeça dele ele pensava ¨o que esse cara tem que eu não tenho¨ E ao invés de tentar entender a esposa, criar algo que fosse dos dois, ele ficava reproduzindo tudo o que o Brad fazia, mesmo que claramente não funcionasse.

Ele queria conseguir ser o Brad, tomar esse lugar, e voltar a ser perfeito. Eu fiquei muito incomodada em todas as cenas dele tentando ser o outro cara. Vergonha alheia cringe total.

O Brad é Tóxico sim

Gente que cara mala, bipolar, imaturo, egoísta, prepotente e sem noção. Ele me irrita tanto em tantas cenas que daria pra fazer um post inteiro só das atitudes tóxicas dele. Nem o salsichão do ep 3 minuto 19 compensa kkkk.

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Ainda assim entendo a Billie naquele final. Não faria, não justifico, mas compreendo.

Vocês sabiam que a espécie humana é a única que olha nos olhos e pode sentir o coração um do outro ao se abraçar e encostar durante o ato sexual? Nós, mulheres humanas, não fomos feitas apenas pra usar o sexo com fins de reprodução, e sim igual os homens, podemos – e deveríamos – desfrutar apenas pelo prazer.

Acontece que vivemos a muitos mil anos sob a misturinha punk de culpa cristã com patriarcado, e temos na cabeça, mesmo que de forma incosciente, a ideia de que valorizar tanto o sexo só pelo prazer próprio como a Billie faz é errado.

Mas a Billie sabe que não é errado, ela se conhece, é psicóloga, e ela, nesse final, depois de muito lutar contra, segue seus instintos e resiste ao padrão que é imposto pra ela de aceitar o modelo familiar que, por mais que ela goste, demanda que ela abandone uma parte essencial de si mesma.

Vejo tantas mães falarem que ¨com a maternidade é assim mesmo, você renasce e deixa a outra mulher pra trás¨. Mas Billie bate no peito e diz NÃO, não vou deixar esse meu lado pra trás. E eu penso igual. Maternidade é pra vir somar, não pra se abandonar.

Acho que Billie foi muito corajosa, e acho que, se na segunda temporada ela chegar em casa e meter a real pro Cooper é menos mal.

Francesca é mais problematizável que a Billie

Uma mulher bem sucedida, rica, bonita, se colocando como segunda opção de um homem casado. Sem comentários.

Não, Sex/Life não romantiza a traição

Não achei errado ela continuar insatisfeita e seguir os instintos dela, isso eu sinceramente aplaudi de pé. Mas achei errado ela trair sim, ainda mais com o pentelho do Brad.

Cooper também estava errado em stalkear pelo telefone, e Brad errado em pedir uma mulher casada em casamento (e em todas as outras merdas que ele fez). E no fim gosto dessa série por isso.

Cinema, série, arte no geral, não são feitos pra ensinar sempre a lição de moral certa, e sim pra mostrar a realidade de um pouco das cagadas que muito de nós fazemos ou já fizemos na nossa vida, ou que sabemos que os outros fazem.

Acho que isso faz com que a gente expanda a percepção do que realmente acontece na vida real. Afinal, sim, muitas pessoas traem, e a série mostra isso, sem romantizar, deixando bem claro o quão errado e tóxico todo mundo é em algum momento ali, e trazendo reflexões. A raiva que as pessoas sentem da série é a prova de que esses acontecimentos não estão sendo mostrados de forma positiva, não estão sendo romantizados.

Então, se você adulto, informado, com noção do certo e errado, assistiu a passou a achar certa a traição, o problema não está bem na série né? Você mesmo já estava inclinado a querer justificar traição.

Mas se você tem a cabeça feita e sabe o sobre responsabilidade afetiva, não vai romantizar a traição nessa série assim como não romantiza um assassinato se assiste James Bond matando vilões. A fala da Sasha no final faz a Billie ver que enquanto ela continuasse vivendo com aquele desejo não só de sexo, mas de liberdade, reprimido pra se enquadrar, ela nunca ia conseguir se permitir ser feliz.

Que venha a segunda temporada de Sex Life!Torcendo pra que a Billie fique um tempo sozinha e saia desse ciclo de boy tóxico.


Atualização: Segunda Temporada de SEx/Life

Acabei de acabar a segunda temporada, que já teve um cheirinho de temporada final, e fiquei bem satisfeita – até o último episódio. SPOILERS A SEGUIR:

Gostei muito das narrações e insights feitos pela Billie. No final das contas acho que foi o que mais gostei nessa temporada. O processo de superação do Cooper também foi muito interessante de acompanhar, e a resignificação do que é ¨assumir as rédeas da vida¨ trazidas pela Sasha foi muito bacana.

Porque sim, ir atrás o que a gente quer, mesmo que seja um homem, também é assumir as rédeas da vida, o importante, como a Billie conclui na cena final, é estarmos completas e felizes com nós mesmas antes de deixar alguém entrar pra complementar – não pra completar.

O que eu definitivamente não gostei nessa temporada foi o quão acelerado foi o final. Como assim não teve nenhuma cena de sexo no momento presente entre a Billie e o Brad? Ele, inclusive, mal apareceu o rolê inteiro. Não deu pra formar uma conexão entre eles, senti ela muito mais conectada ao Majid.

E, ao contrário do que eu esperava pra ela, ela praticamente não ficou solteira, ficou tipo 2 minutos do episódio final. Então a teoria dela sobre se conhecer antes de casar é linda, mas ela não fez muito isso na prática, já que que o processo de auto-conhecimento dela foi sempre atrelado a um homem.

Além disso, a primeira temporada mostra que o Brad foi um péssimo namorado, muito tóxico, aí achei perigosa a mensagem que fica de perdoar relacionamento tóxico em prol do amor avassalador. Ao mesmo tempo que fica uma mensagem de esperança de que as pessoas sempre podem evoluir e mudar – se não, não teria nem por que existir terapia.

Resumindo, amei muito a humanidade em que todos os personagens foram tratados nesse temporada, sobre não ter certo e errado, sobre todos terem muitas dúvidas em relação a qual a escolha certa, sobre serem vistos como pessoas, humanos, falhando e aprendendo – ou não – com as experiências. Testando, arriscando, fazendo muitas escolhas que pareciam certas mas não eram, e fazendo escolhas arriscadas que de fato eram certas. Afinal, é assim na vida real também né?

Que a gente se apodere e se aproprie da nossa força feminina como a Billie. E que se permita ser real, viver, arriscar e aprender no processo. Os caras são todos apaixonados por ela porque ela é autêntica, ela não faz jogos, ela não veste máscaras, ela não tem medo de se ser, ela não liga pras regras do jogo impostas pelo patriarcado.

Obrigada pelas lições e lembretes, Billie.

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Comments (6)

Uauu… que texto perfeito! 👏🏽👏🏽 Terminei de ver a série agora e após tantas críticas que vi antes eu pensei: nossa, deve ser um horror! Mas olha, eu que não sou casada, não sou mãe… ENTENDO a Billy…. Adorei seu texto! Tudo como eu pensei a série toda! 👏🏽☺️

Oba! que bom que você também entendeu a Billy (e eu!) Acho que a série é muito provocativa pra mulheres mais tradicionais em relacionamentos. Assistem pensando em assistir cenas quentes de leve pra se distrair e se deparam com questões muito mais profundas que preferem não encarar de frente, aí criticam. Muito feliz com seu comentário, compartilhe meu texto com as amigas que assistiram as série hahah.

Olá Lara! Encontrei o seu blog por acaso. Entre tantas críticas da série escritas por homens, a sua me chamou a atenção. Eu realmente queria ler algo escrito por uma mulher.
Concordo com cada ponto destacado por você. Não tenho um filho biológico (o filho do meu marido é como meu filgo), mas já estive em um relacionamento como o da Billie, onde tudo parece perfeito para os outros, mas que para ser tão perfeito eu precisava ficar quieta, guardar para mim meus desejos e sonhos. Hoje estou casada, não com o mesmo homem, temos uma família e eu sei que tanto os meus sonhos e desejos, quanto os dele são importantes, e precisamos ser honestos sobre o que queremos. E isso não quer dizer que somos “menos pais”. Adorei a sua avaliação da série. Obrigada por compartilhar. 🙂

Oi Karina! que bom que você gostou e se identificou! Homens deveriam ser proibidos de fazerem uma crítica sobre essa série, que parte totalmente do ponto de vista de uma mulher, ou seja, algo que eles não têm como entender por mais que tentem.Um grande abraço!

Olá, Lara!
Seu texto é muito bom mesmo, mas é bem melhor que a série. Na verdade, eu relutei na primeira vez a continuar assistindo, pois de cara preferia o “Cooper”, porque era um ator que eu já admirava.
Acho que só um ano depois resolvi assistir a série toda. Mas muito mais pelo desejo de ver cenas mais quentes de sexo, sem ser um filme de pornografia explícita. Confesso que revi várias cenas do Brad e Billie porque, apesar do personagem dele ser o “bad boy” da história, ele se importava em dar prazer à parceira. Mas me irritava muito que até nessas cenas mais quentes havia os comentários ou pensamentos da protagonista como se fosse uma aula que ela dava na faculdade. Sinceramente, eu revia as cenas sem o áudio.
Outra coisa que gostaria de comentar é que para mim esta série me remeteu aos filmes “Sex and City”, porém de forma mais apimentada em relação às cenas de sexo. Mas me irrita em ambas a superficialidade dos personagens, que vivem em NYC, às voltas com o “glamour” de Manhattan, da moda (para mim muito exagerada), da vida noturna voltada só para a “caça”, e todos bem sucedidos financeiramente. Tudo muito clichê como na maioria das produções americanas (EUA).
Então, apesar de ter usado a série Sex/Life como um refúgio em noites solitárias, para quem quer assistir uma boa série com ótimos atores e enredo eu indico “Big Little Lies”, que inclusive revi recentemente. Nesta às relações são aprofundadas, há a crítica do modelo padrão a ser seguido versus o quanto custa seguir as normas impostas pela sociedade, e a difícil superação de traumas que quase todo mundo carrega.
Um grande abraço.

Estou gostando de ler seus
conteúdos.

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