Nesse post vou contar minha experiência com o desmame gentil. Sei que existem muitos posts na internet que afirmam que o desmame gentil não é possível, e eu como uma pessoa super adepta da educação não violenta e do acolhimento da criança, venho contar que pra mim o desmame gentil foi sim, super possível.

Amamentei a minha filha por 3 anos e 4 meses, e nesse post aqui conto sobre por que optei pela amamentação prolongada.

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O desmame noturno gentil

O desmame gentil noturno foi o primeiro passo desse processo, uma semana depois de ela completar 2 aninhos. Após a consulta ao pediatra, ele me deu uma bronca ao ver o meu estado de exaustão depois de dois anos acordando entre 2 em 2 horas e 4 em 4 horas todas as noites. Eu sou mãe solo, e apesar de a minha irmã ter me ajudado muito no primeiro mês, todo o restante foi um processo extremamente solitário, e pra mim um dos mais difíceis da maternidade.

Sempre valorizei muito minhas 8 horas de sono, e ler artigos como esse, que mostram o quão importante é dormirmos bem a noite toda, só me faziam sentir culpa, porque eu sentia que não tinha essa opção, porque estava obstinada a amamentar em livre demanda até ao menos 2 anos.

Mas aí o pediatra veio e me deu esse puxão de orelha, que eu, honestamente, estava precisando.

Dr Flávio: – E aí, mamãe, desmamou

Eu: – Não, doutor, ela ainda acorda e agora não mama 10 minutinhos e já dorme, como antigamente, quer ficar a noite toda direto, tô dormindo umas 3 horas picadas por noite

Ele: – Então a partir de hoje você vai olhar pra ela antes de dormir e conversar, ela já entende. Explicar que vai ser o último mamá e o próximo só quando tiver claro, de dia. Ele falou, olhando pra ela, que obviamente não gostou nadinha e ficou bem emburradinha

Eu: – Doutor ela vai chorar eu não vou aguentar

Ele: – Peça pra alguém tira-la de perto de você nessa noite, ela vai chorar um pouco alguns dias, mas siga com a rotina de explicar que antes de dormir vai ser o último mamá e que o o próximo só quando tiver sol, que ela vai entender. VOCÊS DUAS PRECISAM DORMIR A NOITE TODA. Ficar acordando assim tanto tempo faz mal pras duas.

E ok, lá fomos nós pra primeira tentativa. Hora de dormir, lembrei ela do que o médico tinha falado, mas claro que às 2 da madrugada ela acordou. Expliquei que não ia dar e ela chorou, Minha mãe veio e foi com ela pra sala. Ela chorou exatos 9 minutos e dormiu no colo da minha mãe e foi direto até de manhã. Claro que, ao primeiro raio de sol, ela acordou e foi direto pro peito.

Na segunda noite ela também acordou e expliquei que, de novo, não teria mamazinho. Quando ela começou a chorar falei que ia chamar a vovó igual ontem, e ela disse que não precisava, que queria que eu fizesse ela dormir. O choro durou 5 minutos.

Noite 3 ela acordou de novo, não chegou a chorar porque ali eu já estava com a água a postos. Dei a águinha nesse copo antivazamento da NUK, que ela tem que fazer uma sucção para tomar a água, o que a fazia associar com o próprio peito, além da autonomia em pegar e tomar todas as noites sem fazer lambança, já que ele não vaza. Isso ajudou muito no processo!

Fiz um post bem completo sobre todos os copos de transição que usei em casa fase e quais funcionaram: O Melhor Copo de Treinamento Para Bebê de Acordo com a Idade

Ela acordou por 7 noites, chorou só nas duas primeiras e da terceira em diante aceitou a água no copo da NUK e dali em diante simplesmente dormiu as noite inteira! E segue assim até hoje.

O desmame gentil definitivo

Maneirei na livre demanda a partir dali porque se deixasse ela ficaria no peito o dia todo. Fui ensinando sobre limites do meu corpo, e resignificando a culpa do não pela importância em reforçar pra ela o quão importante é respeitarmos os nossos limites físicos, mesmo a mamãe. Fui mostrando que eu amava tanto quanto ela dar o mamá, mas que o corpo consegue até certo ponto e depois precisa descansar. E ela respeitava, e mamava só quando eu podia dar.

Quando ela fez 3 anos percebi que eu realmente havia chegado no meu limite e que estava na hora do desmame, mas claro que eu queria fazer isso de uma forma gentil e privando-a ao máximo do sofrimento. O primeiro passo foi tirando da tarde, que ela já estava se acostumando a ficar sem devido aos limites que já contei. O mais difícil era tirar antes de dormir.

Comecei a dar o mama um pouco antes e depois deixa-la bem animada para alguma leitura bem lúdica para que não dormisse no peito. Quando ela já estava bem sonolenta, comecei a propor uma sessão de massagem com creminho. Consegui fazer ela dormir sem o peito e com massagem nas costas e nos pézinhos. E fui conversando de que em breve nós iríamos parar com o mamá.

Uma certa noite falei ¨filha, hoje é o último, tudo bem pra você? Foi muito especial todo esse tempo de tetê, mas está na hora de nós duas arrumarmos outras formas de conexão, porque a mamçae chegou no limite, e respeitar os limites do nosso corpo é muito importante¨.

Ela ficou sim, um pouco sentida, chorou um pouco, me abraçou bem forte, dormiu, e no dia seguinte já não pediu mais.

Cada mãe e cada bebê é um mundo diferente. Eu quis fazer a minha parte em mostrar que é possível fazer um desmame gentil, e quem sabe dessa maneira inspirar com alguns insights você mamãe que está no limite e não consegue desmamar sem culpa.

Conclusão

Dá pra equilibrar. Dá pra sacrificar algumas parte do nosso eu em prol de todas as coisas novas que aprendemos com o desafio da maternidade, mas é importante estarmos inteiras pra ter de onde tirar pra tanto doar também, sem descontar frustrações reprimidas em nossos tesouros. Vale sim a pena acordar por muitas noites pro bebezinho ficar bem nutrido, mas também temos que entender nossos limites, e se preciso, e possível, pedir pra alguém dar na mamadeira uma única noite pra você descansar, por exemplo. Eu fui radical demais com isso, fui zero gentil comigo mesma e deixei muito a culpa me pegar, porque não tinha muito do conhecimento que tenho hoje, aí acordei todas as noites por 2 anos. Mas não precisava.